Laboratórios de inovação no setor público: avanços e desafios em Santa Catarina sob a perspectiva dos gestores

O setor público enfrenta desafios cada vez mais complexos e interconectados em um ambiente de mudança constante. A rápida evolução tecnológica, mudanças demográficas, pressões ambientais e crescentes expectativas dos cidadãos destacam a necessidade de soluções inovadoras. A inovação, por sua vez, surge como uma via promissora para conceber soluções que abordem as políticas públicas e os desafios do serviço governamental. Isso contribui para que os governos possam oferecer produtos e serviços de maior qualidade, alinhados às expectativas da sociedade, e, consequentemente, elevando a contrapartida do setor público.

Entretanto não estamos falando de tarefa simples. O planejamento de uma inovação e as soluções para os questionamentos mais diversos carecem de um ambiente de fomento de experiencias e favorável a aplicação de tantas técnicas quanto possíveis. Nem mesmo assim é possível garantir boas entregas, pois trata-se de experimentos com acertos e erros e muitas tentativas. Buscar caminhos já trilhados facilitam o processo, mas o que para uns funcionou bem pode não funcionar para outros. Os fatores envolvidos são muitos, desde o público envolvido, ambiente interno e externo, disposição, patrocínio e tantas outras variáveis.

Pensando nos desafios dos laboratórios de inovação, em novembro de 2023, um Painel com os gestores dos laboratórios de inovação no setor público em Santa Catarina, foi realizado por estudantes de graduação e pós graduação da UDESC/ESAG no contexto da disciplina Inovação no Setor Público.

Um primeiro passo adotado por muitos órgãos, incluindo os convidados do painel em questão, Tribunal de Contas do Estado, Tribunal Regional do Trabalho, Ministério Público, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa de Santa Catarina, é a adoção de Laboratórios de Inovação. Segundo Mulgan (2014)[1], “os laboratórios de inovação no setor público têm a expectativa de influenciar o setor público como um todo, promovendo mudanças estruturais e sistêmicas e, portanto, que levem a um ganho de escala no desempenho e na qualidade dos serviços públicos[…]”.

Ainda que se busque a melhoria da qualidade dos serviços públicos, o aumento da eficiência e efetividade na gestão pública; a redução de custos e desperdícios; muitas barreiras ainda são levantadas por aqueles que fazem parte da linha de frente destes laboratórios.

O debate sobre “entregas” é recorrente, pois os gestores esperam que os laboratórios de inovação entreguem soluções para os problemas enfrentados pela instituição. Estas entregas podem variar em inovações de rupturas, mas de modo geral as mais notadas pelos servidores envolvidos tratam-se das incrementais. Segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008, p. 30[2]) “se a inovação decorre de melhorias de performance e a novidade se dá apenas na organização adotante, trata-se de uma inovação incremental”. 

Notadamente, a descontinuidade das gestões nas instituições envolvidas apresenta-se como barreira a produção dos laboratórios de inovação, que ora tem apoio das gestões e ora a perdem por completo, remando a favor da maré. Essas interrupções causam prejuízos aos processos em andamento, mas sobretudo, trazem a incerteza de quem se propõem ao trabalho de inovação. A ausência de incentivos à inovação, a existência de regulamentos e normas que reduzem a flexibilidade em termos de experimentação, e a busca de métricas capazes de indicar o processo de inovação como algo crível, são algumas das dificuldades enfrentadas.

Mas o entusiasmo dos participantes do painel revigora a ideia de que, para cada cenário há desafios, mas há maneiras de desenvolver política de inovação que tragam respostas e soluções que a administração necessita. Dessa forma, os laboratórios de inovação podem ser uma importante ferramenta para a melhoria da gestão pública e para a solução de problemas complexos no setor público. A aceitação do erro é fundamental para a promoção de uma cultura de inovação no setor público e para o desenvolvimento de soluções mais efetivas e eficientes para os problemas públicos.


[1] Apud Sano, 2020, p. 12

[2]  Apud Cavalcante et.al, 2017, pg 35.


 

Fonte: Acervo da disciplina Inovação no Setor Público da UDESC/ESAG


Referências

CAVALCANTE, Pedro. Inovação e políticas públicas: superando o mito da ideia. Brasília: IPEA, 2019. 427 p.: il., fots. color. ISBN: 978-85-7811-352-0. Disponível em: <https://www.moodle.udesc.br/pluginfile.php/2456372/mod_resource/content/1/Inova%C3%A7%C3%A3o%20e%20pol%C3%ADticas%20p%C3%BAblicas_superando%20o%20mito%20da%20ideia%20%282%29.pdf>. Acesso em: 29 Out. 2023.

CAVALCANTE, Pedro; CAMÕES, Marizaura; CUNHA, Bruno; SEVERO, Wilber. Inovação no setor público. Teoria, tendências e casos no Brasil. Brasília: ENAP; IPEA, 2017. Disponível em: <https://www.moodle.udesc.br/pluginfile.php/2410990/mod_resource/content/1/Cavalcante%2Bet%2Bal_cap%2B1.pdf>. Acesso em: 29 Out. 2023.

Ground zero coworking. Rússia: 2023. Disponível em: <https://en.idei.club/43988-ground-zero-coworking.html>. Acesso em: 21 fev. 2024.

LOPES, E. CIEBP é inaugurado em Adamantina. São Paulo: 19 Ago 2023. Disponível em: <https://clikar.com.br/ciebp-e-inaugurado-em-adamantina-2/>. Acesso em: 21 fev. 2024.

SANO, Hironobu. Laboratórios de inovação no setor público: mapeamento e diagnóstico de experiências nacionais / Hironobu Sano. — Brasília: Enap, 2020. 45 p. : il. ISSN: 0104-7078. Disponível em: http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/5112. Acesso em: 11 Out 2023.


Juliana Korb Nogueira

Mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2009). Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2002). Cursa Administração Pública na ESAG/UDESC desde 2021. Atualmente é Funcionária Pública Federal. Áreas de interesse: Ciência Política, com ênfase em Estudos Eleitorais e Partidos Políticos, atuando principalmente nos seguintes temas: Ideologia e Partidos Políticos.

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