Um total de 423 práticas inovadoras foram mapeadas e listadas no “Inovação SC – Covid19”, um inventário que reúne ações de atores diversos em Santa Catarina. São iniciativas referentes ao combate e à redução das consequências negativas causadas pela pandemia do novo Coronavírus.
Entre as iniciativas mapeadas, a criação de plataformas informativas, campanhas de arrecadação de suprimentos e pesquisas científicas revelam a diversidade e o empenho de organizações catarinenses em prol da mitigação e do enfrentamento à Covid-19. Com variações entre foco e público-alvo, as iniciativas convergem em seu caráter inovador, explorando em cada organização responsável suas próprias competências tecnológicas e gerenciais. Desponta também a aptidão de cada uma delas por estabelecer processos colaborativos com outras organizações para incrementar sua própria capacidade individual para inovar.
A pesquisa teve como objetivo caracterizar iniciativas que refletissem a implementação de mudanças significativas e/ou de um conjunto de mudanças incrementais, que tenham como resultado algum grau de novidade em relação às práticas estabelecidas até então.
O levantamento das ações foi realizado a partir de maio de 2020, em páginas institucionais e meios jornalísticos virtuais de alcance estadual. Foram identificados cinco atores principais com atuação no Estado, sendo eles Governo Estadual, Governos Municipais, Universidades, Associações Empresariais e Startups.
Resultados encontrados – Embora tenham sido observadas algumas ações voltadas à mitigação dos impactos pós-pandemia,a maior parte das práticas identificadas tem como foco o enfrentamento da Covid-19, visando gerar impactos imediatos nos seus respectivos públicos-alvo. A preocupação em produzir efeitos rápidos é típica da tomada de decisão em contextos de crise, e acaba resultando em inovações de natureza mais incremental, que fazem uso de conhecimentos já disponíveis e envolvem menor grau de risco.
Entre nove áreas temáticas presentes no levantamento, nota-se a predominância de iniciativas nas áreas de Saúde e Bem-estar, Educação e Economia e Emprego. A área de Saúde e Bem-Estar, com 65% das ações mapeadas, é predominante nas práticas do Governo Estadual (67%) e dos Governos Municipais (37%).
Enquanto no Governo do Estado as iniciativas no campo da Saúde e Bem-Estar concentram-se principalmente na prevenção e combate à Covid-19 como resultado esperado, nos municípios chama a atenção também a presença de iniciativas que visam à assistência ao paciente, esporte e lazer e a saúde mental. Nos Governos Municipais, divide espaço com a Saúde e Bem-estar entre as áreas mais presentes no levantamento, a Educação. Nesse caso, prevalecem como resultados esperados das ações as soluções para ensino remoto e a assistência a pais e alunos.
Impacto na sociedade – Entre as universidades, das 94 ações mapeadas, 59,6% caracterizam-se como atividades ou bens físicos prestados à comunidade que foram criados ou adequados à realidade da pandemia; e 28,7% relacionadas à adequação das práticas administrativas das universidades ao contexto da pandemia, como mudanças nos processos e formatos de trabalho.
Em 11,7% das ações, observa-se a presença de processos colaborativos entre universidade e sociedade. Aas fontes consultadas destacam a cooperação com organizações da sociedade civil e profissionais. Pouca ênfase foi identificada à colaboração com empresas, o que traz à tona a antiga discussão sobre a importância de se avançar na cooperação universidade-empresa para que se possa ampliar o potencial de inovação no Brasil.
Casos e aplicações nas universidade – O inventário demonstrou que o senso de urgência despertado pela Covid-19 acelerou a capacidade de resposta das universidades, que rapidamente conseguiram apropriar o conhecimento relacionado às suas pesquisas em produtos, serviços e processos orientados ao enfrentamento da pandemia.
Por exemplo, a UFSC colocou em uso, na rede municipal de Araranguá, o MAZK, uma plataforma que possui uma proposta diferente das demais tecnologias educacionais porque utiliza técnicas de Inteligência Artificial para acompanhamento do desempenho do aluno e chatbot para auxiliar o professor. Outro exemplo é um jogo, lançado pela UDESC, com objetivo de ajudar no treinamento muscular respiratório e na expansão pulmonar, tratamentos necessários a pacientes que desenvolveram fraqueza muscular ou fibrose pulmonar decorrente da infecção por Covid-19.
Foco na economia – Do ponto de vista do setor empresarial, o inventário evidencia ações inovadoras executadas e planejadas por startups catarinenses, que tiveram atenção voltada para resultados relacionados a Economia e Emprego (38% das 50 iniciativas mapeadas). A mesma área temática é predominante nas iniciativas implementadas pelas associações empresariais, totalizando 71% de suas ações.
No caso das startups, nota-se interface de várias iniciativas com outros atores do ecossistema de inovação de Santa Catarina. O levantamento evidenciou que 28% das iniciativas envolveram apoio financeiro ou colaboração com terceiros. Nota-se também parcerias com empresas maduras, que são referência nacional e internacional na área em questão.
A BiomeHub, que desenvolveu uma solução de testes em massa para testagens em grupo, conta com a parceria de organizações como a Vale, o Hospital Israelita Albert Einstein e a Rede Mater Dei de Saúde. Esses exemplos evidenciam a importância do fomento e das colaborações para a inovação, especialmente aquelas envolvem maior risco e complexidade.
Os resultados mostram, ainda, a complementaridade das ações e o impacto que a pandemia está causando em todos os setores da sociedade, bem como uma aceleração da transformação digital, que se manifesta de forma transversal em todas as áreas temáticas. Percebeu-se que cada setor encontra em sua atuação uma forma própria de prevenir e combater os efeitos negativos da pandemia, alinhando suas ações ao seu perfil e objetivos. Por outro lado, o inventário deixa evidente que, em um cenário inédito como o que se está vivendo vivendo, o papel de cada organização acaba ultrapassando os limites de sua missão e atinge de forma inovadora a sociedade como um todo.
O inventário está disponível no site da UDESC e pode ser acessado gratuitamente: https://www.udesc.br/esag/comunidade
Realização
Alunos da disciplina Gestão da Inovação do Mestrado Profissional em Administração da ESAG
Eduarda Montibeller Schuch
Formada no curso de Administração Pública da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), onde foi bolsista no programa de extensão Laboratório de Inovação em Governança Pública (LABGOV). Atualmente, trabalha como Diretora de Desenvolvimento Ambiental na Secretaria do Meio Ambiente do Município de Balneário Camboriú/SC e é acadêmica do Mestrado Profissional em Administração na Udesc. Acessar Lattes.
Leonardo Favaretto
Possui graduação em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Municipal de São José (2009), especialização em Gestão Pública pela Faculdade Municipal de Palhoça (2014). Atualmente é auditor fiscal de controle externo – Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Ciências Contábeis. Acessar Lattes.
Christiana Lima
Jornalista e Relações Públicas pela UFMG, com foco de atuação em Marketing Estratégico para Tecnologia e Inovação. Mestranda em Administração pela UDESC/ESAG, pós-graduada em Marketing e Gestão Estratégica pela ESPM e com curso de especialização em Business and Management na BBSI-UK, atua como Brand and Content Marketing LATAM na empresa de tecnologia Duda. Acessar LinkedIn.
Camila Ferreira
Mestranda em Administração, com especializações em Gestão de Pessoas e Processos e graduação em Secretariado Executivo. Possui atuação em gestão de verticais de negócios de base tecnológica, marketing e inteligência de mercado. Cofundou rede promotora de colaborações para a inovação e atualmente é Community Manager na VanHack, plataforma global de recrutamento de profissionais de TI. Acessar Lattes e LinkedIn.
Jorge Braun
Administrador público. Doutorando em Administração (Udesc Esag).
Coordenação
Dannyela da Cunha Lemos
Doutora em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do departamento de Administração Empresarial da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC/ESAG e do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Administração da ESAG, no mestrado profissional. Membro do Grupo de Pesquisa Strategos – Organizações e Estratégia da UDESC/ESAG. Acessar Lattes e LinkedIn.
Micheline Gaia Hoffmann
Doutora em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do departamento de Administração Pública da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC/ESAG e do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Administração da ESAG. Acessar Lattes.
e na área cultural, possivelmente o setor mais afetado?
De fato, a área cultural sofreu um impacto gigantesco e temos visto respostas incríveis! Nesse levantamento que publicamos, infelizmente ela não foi uma das áreas mapeadas de forma específica. Como se tratou de um trabalho desenvolvido no contexto de uma disciplina, foi preciso delimitar. Mas sendo retomada uma segunda rodada no próximo semestre, sem dúvida vale a pena incluirmos. Muito obrigada pela sugestão.