team spirit, cohesion, teamwork

Segurança Pública: Um Problema Perverso à Luz da Inovação Colaborativa

As inovações no setor público têm em seu cerne buscar soluções inovadoras para lidar com os “‘wicked problems’ ou problemas perversos (CROSBY; HART; TORFING, 2017). O problema da segurança pública configura-se como um problema perverso, visto que a sua problemática gira em torno de um cenário complexo no qual atuam diversos atores. Neste texto será discutida a atuação da Rede de Vizinhos da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), medida de segurança usada comumente no estado que será implementada em Itapirubá, sob a ótica da inovação colaborativa. O objetivo é identificar alguns desses elementos que compõem a inovação colaborativa no caso prático da Rede de Vizinhos e sua contribuição para a solução dos problemas perversos.

A Rede de Vizinhos é uma forma de atuação da Polícia Militar junto às comunidades a fim de aumentar a vigilância natural da região em que for implementada. O protagonista desta relação, contudo, não é a Polícia Militar, mas sim os vizinhos que atuam na figura de campeões, de Crosby, Hart e Torfing (2017), com a finalidade de mobilizar e organizar todos os atores a participarem do processo de colaboração. Nesta relação, o policial militar, que irá atuar junto à Rede de Vizinhos, assume o papel de patrocinador, pois possui a autoridade formal para implantar e dar legitimidade ao processo (CROSBY; BRYSON, 2005 apud CROSBY; HART; TORFING, 2017).

Observa-se a Rede de Vizinhos, sob a ótica da inovação colaborativa, visto que a abordagem do problema parte de observar o processo de inovação como um fenômeno complexo e iterativo (MOORE; HARTLEY, 2010), por meio do qual sejam identificados os problemas de segurança pública a serem resolvidos. Essa construção do conhecimento da problemática parte de uma filosofia pragmatista, para identificar o problema à luz de quem os vivencia (SOUZA, 2010), a fim de retratar as reais necessidades a serem desenvolvidas. 

Esta prática de inovação busca solucionar o problema dos gestores públicos acerca da falta de conhecimento sobre a temática em questão (CROSBY; HART; TORFING, 2017).Nasce, nesse contexto, a figura da liderança integrativa, representada neste caso prático, pelo policial militar que será inserido da Rede de Vizinhos a ser criada, devendo trabalhar proativamente para estimular a interação e troca de conhecimento entre os atores envolvidos (CROSBY; HART; TORFING, 2017).A atuação do líder deve ser motivada pelas necessidades dos cidadãos envolvidos na problemática, por meio de uma interação inter-atores.

Essa interação entre os atores é promovida via aplicativo de Whatsapp. Este aplicativo, contudo, não deve ser observado, no caso prático observado da Rede de Vizinhos, como uma inovação tecnológica. O uso desta ferramenta transcende a inovação em tecnologia, pois ela serve como um meio facilitador do processo de inovação, visto que promove a confiança, transparência e o diálogo entre os atores, sendo estes elementos facilitadores para a participação do cidadão no processo de inovação. (LOPES; FARIAS, 2020).

Nota-se que o conceito de inovação colaborativa, aplicado ao caso da Rede de Vizinhos, dialoga com o conceito de inovação em governança de Moore e Hartley (2008) apud De Vries, Bekkers e Tummers (2015), posto que ambos possuem o entendimento de inovação a partir do desenvolvimento de novos processos os quais abordem os problemas sociais envolvendo os cidadãos na resolução do seus problemas. 

A inovação promovida pela implementação da Rede de Vizinhos, foi aqui observada pela ótica da inovação colaborativa, com a atuação dos cidadãos na construção e prestação do serviço de segurança pública. Esta relação entre os atores permite identificar os reais motivadores dos problemas perversos de segurança pública. Observou-se também, a presença dos elementos de liderança integrativa, patrocinadores e campeões, estes característicos do processo de inovação colaborativa. Resta, como lacuna deste ensaio, o questionamento: quais as “próximas práticas” (CROSBY; HART; TORFING, 2017) que a inovação colaborativa promovida pela Rede de Vizinho irá redesenhar a fim de prover novas soluções a este problema perverso?

Referências bibliográficas

CROSBY, Barbara C.; HART, Paul´t; TORFING, Jacob. Public value creation through collaborative innovation. Public Management Review, v.19, n. 5, p. 655-669, 2017

DE VRIES, Hanna; BEKKERS, Victor; TUMMERS, Lars. Innovation in the public sector: a systematic review and future research agenda. Public Administration, v. 94, n. 1, p. 146-166, 2016.

LOPES, André Vaz; FARIAS, Josivânia Silva. How can governance support collaborative innovation in the public sector? A systematic review of the literature. International Review of Administrative Sciences, p. 1-17, 2020.

MOORE, Mark; HARTLEY, Jean. Innovations in governance. In: OSBORNE, Stephen P. The New Public Governance? Emerging perspectives on the theory and practice of public governance. London: Routledge, 2010.

SOUZA, Rodrigo Augusto. A filosofia de John Dewey e a epistemologia pragmatista. Revista Redescrições – Revista on-line do GT de pragmatismo e Filosofia Norte-American,

n.1, 2010.

TORFING, Jacob; SORENSEN, Eva; ROISELAND, Asborn. Transforming the public sector into an arena for co-creation: barriers, drivers and ways forward. Administration and Society, v. 51, n. 5, p. 795-825, 2019.

Autora



Camila Brehm da Costa Cardoso
Mestre em Administração pelo Centro de Ciências da Administração e Sócio-Econômicas – ESAG, graduada em Ciência Contábeis pela Universidade Federal de Santa Catarina. Contadora da Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú. Seus temas de interesse são: contabilidade pública, gestão pública e endividamento e finanças públicas. Acessar Lattes.

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